Campus OnLine: Arte em busdoor inova e promove mais contato com artistas


fotos Marcella Fernandes


Sessenta ônibus circulam em todo o Distrito Federal, desde ontem (16), com imagens diferentes das recorrentes publicidades no busdoor. As obras expostas fazem parte do projeto “Coletivo com Arte” e pertencem a seis artistas locais. O grupo que realiza o intento surgiu em 2010 e ganhou o primeiro lugar na categoria “Projeto de Relevância Cultural Individual ou Coletivo” pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o que viabilizou a proposta. A circulação dos ônibus com as obras vai até o dia 15 de julho.


Diversidade de técnicas e idades nos artistas do projeto "Coletivo com Arte":
Fernando Aquino, Marcio Mota, Francisco Galeno, Milton Marques e Glênio Bianchetti


“A máxima do projeto é a diversidade na circulação, acessibilidade e contato do público com a obra”, afirma Nuara Vicentini, coordenadora do Coletivo com Arte. Os ônibus passarão por 18 cidades do DF – Sobradinho, Planaltina, Guará, Gama, Lago Norte e Sul, Taguatinga, Riacho Fundo, Núcleo Bandeirante, Asa Sul e Norte, Águas Claras, Sudoeste, São Sebastião, Paranoá, Samambaia, Ceilândia e Cruzeiro - e duas do entorno - Águas Lindas e Valparaíso.

A inspiração veio do projeto “14 na Rua” de Pelotas/RS, que expunha trabalhos de 14 artistas em outdoors e distribuía cartões sobre as obras, numa tentativa de colocá-las em maior contato com o público. Fábio Baroli, programador visual e um dos coordenadores do “Coletivo com arte”, afirma que “tirar as obras do espaço convencional que é a galeria e colocá-las em um espaço legitimado pela publicidade, traz ao trabalho uma conotação de intervenção. A gente propagandeia os artistas de forma sutil”.


Para Nuara Vicentini,o projeto faz
a arte circular pela cidade


Laís Batista, 21, estudante de direito, comenta que é muito interessante ver algo mais artístico em ônibus e que deveria haver mais iniciativas similares. A estudante viu a obra de Clarice Gonçalves, uma das artistas convidadas, em um ônibus no Plano Piloto. “Essa é uma forma de divulgar e fazer com que as pessoas se interessem por cultura”, conclui.

Além da exposição em busdoors, serão distribuídos 48 mil cartões postais com a foto das obras e uma breve descrição dos artistas e do projeto. De forma gratuita, os postais estarão disponíveis em nove terminais rodoviários do DF, no Instituto de Artes da UnB (IdA) e na Casa da Cultura da América Latina da UnB (CAL).

Diversidade de gerações

O time de artistas convidados para o projeto foi escolhido pelos membros da comissão organizadoraa e reúne três gerações da arte em Brasília. Glênio Bianchetti e Lêda Watson são artistas da geração pioneira. Glênio tem 83 anos, trabalha com arte há 70, e diz que se algumas pessoas ficam constrangidas ao entrar numa exposição, desta vez a arte vai andar atrás delas, atrás do povo. Para Lêda, que faz arte desde os 19 anos, o projeto é precursor em sua carreira, pois oferece um intercâmbio direto com as pessoas.

Uma foto da gravura “Os encantamentos da Natureza” é o que a população brasiliense poderá conferir da obra de Lêda. Segundo a artista, o intuito foi mostrar sua paixão pelo cerrado. Já Glênio fez uma homenagem ao pintor francês Henri Mattisse, no quadro “Matissiana”.


Pintor Glênio Bianchetti a frente do ônibus que leva sua pintura, Matissiana


Francisco Galeno e Milton Marques são os artistas da geração intermediária. O primeiro fez os painéis da Igreja Nossa Senhora de Fátima e escolheu uma foto deste trabalho para expor nos ônibus. “Quis mostrar o trabalho na igrejinha, pois ele fala de coisas que flutuam e, por isso, tem a imagem de uma pipa”, diz Francisco. O pintor afirma que ainda é desconhecido em Brazlândia, onde vive, e que busca demonstrar o saudosismo de uma infância no nordeste. Milton, que vive e trabalha no Gama, acha importante suas obras fazerem parte do cotidiano das pessoas. “A obra foi para representar algo que está no dia-a-dia das pessoas, que é o dinheiro, e distorcê-lo, desmistificá-lo”.


Artistas plásticos Fernando Aquino e Márcio Mota, do TuTTaméia, ao lado da obra Fuleragem Campestre


O grupo artístico TuTTAMéia, composto por Fernando Aquino e Márcio Mota, participa com a obra “Fuleragem Campestre”, produzida  exclusivamente para o projeto. “Optamos por trabalhar com o conceito de fuleragem, pois traz a ideia de liberdade. O nu carrega isso”, afirma Márcio. De acordo com Fernando, a obra vai causar estranheza, mas é a linha de trabalho que querem seguir. Clarice Gonçalves representa a terceira geração de artistas ao lado do TuTTAMéia. Moradora de Taguatinga, a artista de 25 anos é a mais nova da turma e escolheu sua pintura “E todo homem honrado professa, de resto, o aperfeiçoamento da espécie”.

Fim de circulação

O encerramento será dia 15 de julho na Rodoviária do Plano Piloto, com a exibição de um curta documentário sobre o projeto “Coletivo com arte”. No dia 27 desse mês, haverá uma mesa redonda aberta à comunidade, às 19h, no auditório da CAL, com a presença dos artistas participantes do projeto, da professora da UnB Maria Beatriz de Medeiros e de Ana Queiroz, diretora da CAL. O debate abordará os temas da democratização, integração e divulgação da arte.




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