Correio Braziliense - Diversão e Arte


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Os ônibus e seus horários apressados — ou atrasados. Motivo de desespero para quem chegou esbaforido na parada e, literalmente, comeu poeira. Ou de resignação para quem encara o vidro traseiro do veículo com olhar desolado, consciente de que a linha que tanto espera ainda vai levar um tempo para aparecer no horizonte. E se a aparência metálica do transporte rodoviário, com aquele colorido desbotado e empoeirado, servisse de moldura para uma obra de arte? Pensam assim os integrantes do Coletivo com Arte que, já na primeira ação, arriscam meter o bedelho no espaço reservado à publicidade, o busdoor (vidro de trás): em vez de anúncio de promoções ou ofertas imperdíveis, o pessoal do coletivo convocou artistas da cidade para contribuírem com reproduções de obras. Sessenta unidades do transporte coletivo local, devidamente decoradas, saíram às ruas ontem, com rotas no Plano Piloto e em regiões administrativas do DF, e vão circular até 15 de julho.


Com participação de Glenio Bianchetti, Lêda Watson, Galeno, Milton Marques, Clarice Gonçalves e TuTTaméia (Márcio Mota e Fernando Aquino), o projeto foi aprovado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC). O passageiro que por acaso “perder a viagem” pode retirar um dos 40 mil postais com as obras impressas nos principais terminais rodoviários do DF. Nina Menegale, da equipe de cinco pessoas do coletivo, acredita na força da arte como agente mobilizador do cotidiano. “A ideia é abrir para a comunidade, levantar questões sobre intervenção urbana”, define.


Um dos colaboradores, Glenio Bianchetti aprova a inserção da sua tela Matissiana numa moldura ambulante. “Além da divulgação, tem a participação do povo, as coisas chegam até ele. Tem muita gente que não entra numa sala de exposição por preconceito, por achar que é coisa de grã-fino”, explica o pintor, ilustrador e tapeceiro natural de Bagé (RS) e radicado em Brasília desde 1961.


A jovem Clarice, 25 anos, apresenta o óleo sobre tela E todo homem honrado professa, de resto, o aperfeiçoamento da espécie como a peça escolhida para vagar pelas ruas. “É aí que está o aspecto contemporâneo da arte. A interação com todos os meios”, pensa a moradora de Taguatinga.


O multiartista Milton Marques, residente no Gama, não está exatamente ligado ao universo de desenhos e pinceladas dos colegas. Ele prefere a subversão de objetos proposta em instalações, o que não o impediu de ver uma criação sua plotada às costas de um coletivo. “A minha ideia transcende um pouco a questão do suporte. É uma nota de US$ 100 que eu girei em cima de um scanner. E aí, de várias tentativas, em uma delas consegui a forma que queria, uma conotação quase que de um animal. É um trabalho sobre mudança”, descreve. A arte trafega sem congestionamento. E não cobra passagem.


COLETIVO COM ARTE
Sessenta ônibus com reproduções de obras de artistas brasilienses circulam até 15 de julho. No dia 27, às 19h, mesa-redonda com artistas e acadêmicos no auditório da Casa da Cultura da América Latina (CAL), na UnB. Em 11 de julho, às 18h, encerramento do projeto com projeção do documentário Coletivo com arte, a rodoviária do Plano Piloto. Informações: 8103-5628 e 9618-5997.




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